A Princesa, A Torra e o Dragão

Para refletir sobre alguns arquétipos que gerenciam nossa realidade nos tempos atuais. Referências, arquétipos e o inconsciente são atemporais, isso exige que traçamos um paralelo em tudo que fomos ensinados, tudo que achamos que é nosso potencial e tudo que de fato vivemos por sentirmos de fato que é impulso do nosso coração e alma.

 

A PRINCESA, A TORRE E O DRAGÃO: Um conto de fadas pós-moderno e realista(?).

Há quem ame romanticamente e há quem ame realisticamente. O amor romântico, aquele que acreditamos que é uma performance acerca de conquista(s) dentro de nossos tempos, condiz na verdade a um movimento literário que começou na Europa do século XVIII, e que para além da literatura, traz também consigo um movimento filosófico e artístico que contrapõe o período anterior e todo seu embasamento nas perspectivas racionais, conhecido como o “século da filosofia” e toda sua ênfase cientifica. Resumidamente, o romantismo retrata o drama humano que tem por base a visão de si como centro e ideais utópicos pousados em “tragédias” acerca de desejos e escapismo, ou seja, eu e minhas emoções.

Isso deu-se na construção de um imaginário acerca de um amor de “conto de fadas”, trazendo em sua narrativa uma concepção de gênero e seus papéis já designados e resignados a tais performances pré-estabelecidas. Porém, meu principal objetivo aqui, sujeita a equívocos e enganos é traçar um pensamento livre em paralelo a desconstrução desse feminino “frágil” em busca de salvação e livramento do mal que assola sua realidade e sua vulnerabilidade em detrimento de um “salvador externo”, seja ele qual for.

A performance do arquétipo da princesa, bastante presente ainda no inconsciente coletivo, traz a dependência e a fragilidade como qualidades. Aspectos estes que tolham nosso poder pessoal e inclusive nossa experimentação de um mundo a partir de nossas ações e escolhas em possíveis e diversificadas realidades. Essa fragilidade embutida nesse arquétipo molda nossa trajetória em detrimento do outro, desde suas escolhes até suas manifestações/manutenções de desejo/necessidades.

Essa personagem aprisionada numa torre no seu ponto mais alto, que não por coincidência, ao meu ver, traça um paralelo ao próprio sistema de chackras, os nossos centros de energia desde a base, localizada no períneo – Muladhara – que nos conecta com nosso centro de manifestações terrenas, até o topo de nossa cabeça – Sahasrara – representado por uma coroa no nosso corpo físico. E é aqui, neste último nível, que nossa até então vítima das circunstancias se encontra, vulnerável, frágil e cercada por perigos externos, representada pela figura do dragão, e pela própria torre ao qual sua presença se predispõe em cárcere.

Adepta ao ocultismo e ás figuras de linguagem que sou, sempre que visualizo a figura de uma Torre, trago embutido a essa referência um grande estudioso esotérico chamado Oswald Wirth, criador do Tarot e seus 22 arcanos principais, cada um com um simbolismo em si e cada qual com uma série elementos e seus significados. A carta de número 16 é a que traz consigo a imagem da Torre, mais conhecida como a Casa de Deus. Nessa carta a imagem apresenta forças externas agindo e atuando sobre a inércia da postura/posição humana, obrigando os personagens a abandonar, por atuação de força maior, aquela postura ao qual se encontram, também representados por realidades duais, afinal, dois homens sucumbem a queda.

Esta “lei” divina transpõe o desejo humano fazendo a torre desabar, e, frente a esta queda, a fragilidade humana posta ao chão no qual se dá sua base, tendo aqui um novo início, por assim dizer, abandonando tudo que adorna a posição ao qual os homens representados na figura, se encontram: o mais alto nível de visualização e quiçá de status.

Torre esta, que abriga nossa personagem a espera de seu amado e destemido salvador. Porém temos mais um elemento que compõe este cenário, representada pela imponente figura do Dragão em seu potencial aprisionador. Na cultura chinesa, que traz maior pulverização e referência a esta figura tão popular que é o Dragão, ela representa aspectos de perversidade, desumanidade, terror, e, traz em si também aspectos e representações de forças contrárias, sendo o detentor de forças divinas e protetor dos tesouros mais grandiosos e valiosos, ao qual o iniciado que se dispõe a travar uma batalha com essa figura, desperta em si as qualidades de iniciação e evolução através da provação nessa experiência.

Enfim, chegamos na ponte que atravessaremos juntos para compreender o paralelo entre o conhecimento e a consciência, que é justamente o ponto de diferenciação que traço entre experimentar o Tantra e o vivenciar o Tantra.

Tendo em vista todos as simbologias já referenciadas anteriormente, e todos os elementos que compõe essa química atemporal de nossa princesa e sua até então visível ou aparente realidade, que transpõe suas qualidades de “mulher desperta”, tomamos conhecimento dos arquétipos e das relações comportamentais que eles configuram, visto aquilo que nos pode aprisionar em determinados lugares de nós mesmas, podendo então retomar o caminho de poder com consciência. Estamos no alto dessa torre, um lugar de privilégio, que aponta uma visão grandiosa do cenário físico, um deslumbre que do chão não é possível sua concepção.

Nosso grande Dragão, alimentado até então pelo artificio de uma pseudo proteção, é, nada mais que uma representação de nossas próprias sombras projetadas para fora de nosso círculo de visão, afinal, nossos olhos físicos apontam sempre para fora, para o deslumbre dessa paisagem que também projeta nossas próprias referências de realidade e de mundo ao qual vivenciamos. Sabendo que nossas projeções são frutos de um nível de vivência criados por nós mesmas, partimos aqui de um conceito de vivência ou conhecimento de nossas realidades ou do que aprendemos a distinguir como nossa realidade, para a consciência de nossas próprias projeções e/ou tomadas de decisão com base nessa “realidade”.

Tudo que é conhecimento é consumido de fora para dentro, como um curso, aprender uma nova língua ou técnica, a “percepção” das nossas vivencias (sim, geralmente aprendemos sobre o mundo antes de sentir e saber o próprio mundo), tudo isso é uma atividade mental, ao qual nos apropriamos de um determinado universo que nos circunda. Já a consciência traz consigo a reflexão, para além do observador e o objeto observado como acontece no conhecimento. Ela abraça a elaboração do eu para além do ato e das circunstâncias, transforma a ação de simplesmente olhar o que se ocorre, e nos leva para uma percepção interna mais profunda do que ocorre, vem de dentro para fora.

Eis a chave da permanência ou não de onde se está, da diferença entre o inimigo externo e das partes que lhe faltam alinhar para atravessar uma “pré-determinação” sobre sua condição, primeiramente referida ao gênero. A Torre passa a ser um lugar de privilégio, seu mais alto ponto de visão para além dos olhos e da mente, caminhando para a consciência de si e do lugar que se ocupa. O Dragão torna-se um importante aliado na sua trajetória, afinal, representa suas emoções mais perigosas, um veículo que lhe concede asas num voo transbordo de libertação para além das condições estruturais de sombras causadoras de dores e feridas, mas, oportunidades de crescimento e vislumbre de distintas realidades.

Por fim, um arquétipo composto por fragilidades passa a ser a consciência da totalidade de um feminino repleto de poder e que vai além de designações de papéis, transposto em manifesto dotados de força na manutenção da própria realidade. E isso, caras feiticeiras, é o Tantra e toda sua representação alquímica:  transformar chumbo em ouro, a mente em consciência, a fragilidade em potência, a vulnerabilidade em poder, a reação em proação, o romantismo em realismo, e toda ilusão em amor. Alquimia digna de Deusas ventres da criação e não de projeção. O conhecimento de si se transformando em consciência de ser, de dentro para fora, jamais o contrário. Boas viagens tântricas, e não esqueçam de alimentarem/alinharem bem seus Dragões.  

Sasha Cali – Terapêuta Tântrica

 

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